quarta-feira, 30 de julho de 2025

"Brasil fora do Mapa da Fome. Só esqueceram de avisar o povo que ainda tem fome."





Saiu nos jornais com pompa e circunstância: “Brasil está novamente fora do Mapa da Fome da FAO”. Um feito digno de manchete, palmas e discursos inflamados em palanques internacionais. Mas basta sair à rua — de Norte a Sul, do campo às favelas — para entender que o tal “mapa” parece mais ficção diplomática do que reflexo da realidade brasileira.

Enquanto o governo celebra com relatórios e estatísticas bem calibradas, o povo encara fila em restaurante popular, cesta básica parcelada e restos de açougue como refeição. O Brasil pode até ter saído do mapa da fome da ONU, mas a fome ainda está no mapa da rotina de milhões de brasileiros.

A pergunta que não cala é: até quando viveremos de mentiras com selo oficial?
Até quando vamos aceitar que relatórios com base em médias distorçam o que está diante dos nossos olhos? Sim, há avanços pontuais. Mas dizer que o Brasil venceu a fome porque a média nacional caiu é como afirmar que todos nadam bem porque a piscina tem, em média, um metro de profundidade — mesmo quando alguém está se afogando na parte funda.

A propaganda é eficiente: enche o peito dos políticos, vira post nas redes sociais e vira vitrine internacional. Mas nas panelas... ecoa o vazio. O gás continua caro, o arroz voltou a ser item de luxo, e o café da manhã se resume, cada vez mais, a um gole de esperança — amarga e morna.

Pior: há quem acredite. Porque repetir a mentira com convicção é uma técnica antiga. E o brasileiro, generoso por natureza, quer confiar, quer acreditar. Mas chega uma hora em que o estômago fala mais alto que o slogan.

O Brasil pode ter saído do mapa da fome da FAO.
Mas enquanto milhões ainda dividem um pão dormido, a fome segue bem geolocalizada — e com endereço fixo na periferia.

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