Durante décadas, os governos brasileiros, em vez de promoverem o desenvolvimento humano, pareciam empenhados em criar um tipo de cidadão ideal: o miserável funcional. Aquele que não reclama, não exige, não questiona — apenas sobrevive. De políticas públicas que prometem inclusão a programas sociais que criam dependência crônica, o Estado brasileiro se especializou em distribuir migalhas e chamar isso de justiça social.
Educação: a arte de formar ignorantes úteis
Em vez de uma educação que emancipa, o Brasil aposta num sistema que reproduz desigualdade e emburrece com eficiência estatal. Escolas sem estrutura, professores desvalorizados, currículos esvaziados de pensamento crítico. O objetivo parece claro: formar uma população que saiba obedecer, preencher formulários, votar e... só.
Pensar demais virou ameaça. Questionar é rebeldia. Por isso, a escola pública é mantida em coma induzido. Afinal, povo educado é povo perigoso.
Assistencialismo como cabresto moderno
Programas de transferência de renda são necessários? Sim. Mas quando eles se tornam a única política social de longo prazo, viram ferramenta de controle. Pão hoje, miséria amanhã. E o ciclo continua.
O Brasil virou mestre em trocar cidadania por cesta básica. Não se cria autonomia, se gera dependência. E o pior: com direito a marketing político em cima da miséria alheia.
Saúde: o mínimo possível para manter vivos
O SUS é um gigante — e mesmo assim, vive sob asfixia. Hospitais sucateados, filas desumanas, falta de médicos, de insumos, de respeito. A saúde pública brasileira, muitas vezes, não cura: apenas prolonga o sofrimento em ritmo estatal.
Manter o pobre doente, cansado e desesperançado é parte do projeto. Um corpo sem força não protesta. Um povo doente não marcha.
Moradia e transporte: confinamento moderno
Nas grandes cidades, a moradia popular virou sinônimo de exílio urbano. Conjuntos habitacionais jogados nos confins da civilização, sem saneamento, sem escola, sem dignidade. Transporte? Lotado, precário, caro. O trabalhador pobre gasta 4 horas por dia apenas para sobreviver.
O recado é claro: “Fique onde está, aceite sua condição, agradeça por ainda respirar”.
Cultura e comunicação: silenciar ou cooptar
A cultura popular é marginalizada. O conhecimento livre é sufocado. O debate crítico é desestimulado — ou comprado. O Estado brasileiro prefere o funk que emburrece ao rap que questiona. Prefere o culto ao consumo ao pensamento libertador.
Conclusão: o miserável como projeto de governo
A miséria não é apenas um acidente histórico — é um instrumento político eficiente. Um país onde a pobreza é útil para os que comandam. Onde políticas públicas, em vez de libertar, aprisionam. Onde a dignidade é negociada em ano eleitoral.
O Brasil não falhou em erradicar a miséria.
Ele a transformou em base de governabilidade.
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