Introdução
Quando a primeira-dama Janja soltou, em voz alta, o famoso “Ai, esses vira-latas”, parecia estar prestes a roubar a cena. O problema é que a ironia virou constrangimento diplomático — e ninguém riu.
1. O episódio
Em 9 de julho de 2025, durante um evento no Itamaraty, jornalistas questionaram o presidente Lula sobre possíveis novas tarifas dos EUA. No exato momento, Janja, visivelmente irritada, comentou: “Ai, esses vira-latas”, se virou e quase saiu andando. O gesto foi captado por câmeras — nem precisou legenda.
2. A justificativa: “não era por vocês, era por eles”
A assessoria correu para explicar: “o termo ‘vira-latas’ não se referia aos jornalistas, mas sim aos bolsonaristas traidores da nação”. Estranho: no teatro do Ministério das Relações Exteriores, quase não havia bolsonaristas por perto.
3. O peso de “viralatas”: ironia com passado cultural
Chamar alguém de “vira-lata” no Brasil não é só chamar de subalterno — é evocar nosso infame complexo de vira-lata, termo cunhado por Nelson Rodrigues em 1950, que expressa uma síndrome nacional de inferioridade perante o mundo. Então, quando Janja recorreu ao termo, despertou eco de frustração coletiva, não de dignidade patriótica.
4. A diplomacia ruidosa: cortejo sem etiqueta
Estamos lidando com a principal figura feminina do País, em alto palco diplomático – com o presidente da Indonésia e em clima delicado por tarifas. Irônico, pois a primeira-dama, personificação do “elegante soft power”, entregou um sopro de chule diplomático sem filtro. E no replay, a justificativa soou mais barata que pipoca murcha.
5. A guinada autocomplacente
Pior: parlamentares da oposição não perderam tempo. O deputado Zucco (PL-RS) chamou de “despreparo e arrogância” de alguém que “se comporta como chefe de Estado” sem um voto. Janja nos dá comédia barata quando se oferece para “ressignificar” a função — mas muitas vezes só amplia o palco para suas gafes.
6. O tiro no pé: oposição feliz, aliados em alerta
Curiosamente, seus aliados no PT até usaram o episódio para reforçar críticas à oposição “vira-lata” — mas essa tentativa de martelar discurso virou um martelo que bateu no próprio. Depois da piada, o silêncio foi um poço mais alto que o discurso.
Conclusão
“Querida” Janja, se o objetivo era criticar a “entrega” nacional ao inimigo econômico — parabéns: foi eficaz. Mas chamar de “vira-lata” num evento internacional era tão sutil quanto um rojão estourando na calçada. O tiro saiu pela culatra: virou meme, manchete, e ainda inflou polêmica interna.
Acabamos ficando com a pujança da diplomacia derrubada por uma frase de efeito sem elegância — e sem consequência controlada. Às vezes, a diplomacia exige menos fogo de palha e mais moderação estratégica.
Chamada final: Se a ideia era “lacrar contra traidores”, acabou “lacrando contra si mesma”. Porque num palco internacional, quem fala “viralatas” corre o risco de virar piada global.
Nenhum comentário:
Postar um comentário