segunda-feira, 14 de julho de 2025

Togas de Ouro: O silêncio cúmplice diante dos privilégios do Judiciário.


Nos últimos anos, uma figura tem se repetido com frequência no discurso público brasileiro: o tal "homem de bem". Esse personagem moralista, defensor da ordem e da "família tradicional", costuma aparecer sempre que há alguma crise ética ou política — geralmente apontando o dedo para os outros. Mas há um território onde o silêncio do "homem de bem" é ensurdecedor: os super salários do Judiciário brasileiro.

O silêncio seletivo da moralidade

Quando se fala em combater privilégios, cortar gastos públicos e punir a corrupção, o discurso é certeiro — desde que os alvos sejam políticos, servidores do baixo escalão ou programas sociais. Mas e quando o privilégio mora no alto da pirâmide do poder, vestido de toga?

Pouco se discute sobre como juízes, desembargadores e ministros do Judiciário acumulam salários e benefícios que ultrapassam o teto constitucional. Gratificações, auxílios-moradia, auxílio-livro, auxílio-educação, retroativos, licenças-prêmio vendidas... tudo somado, não é raro encontrar vencimentos que ultrapassam os R$ 300 mil mensais.

Mas quem se atreve a apontar isso é acusado de "atacar as instituições". Ora, que instituições frágeis são essas, que não aguentam ser questionadas? E que moral é essa que só vale para os outros?

A justiça mais cara do mundo

De acordo com dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), o Brasil tem uma das justiças mais caras do planeta. Em 2023, o gasto total com o Judiciário brasileiro ultrapassou R$ 120 bilhões. Isso mesmo: bilhões.

Apesar de toda essa despesa, a morosidade ainda reina. Processos que duram décadas, decisões que favorecem os poderosos, e uma seletividade na aplicação da lei que beira o cinismo. Para os ricos, habeas corpus. Para os pobres, cadeia.

A casta intocável

Enquanto professores lutam por reajustes, enfermeiros enfrentam jornadas exaustivas e servidores públicos veem seus salários congelados, juízes gozam de aumentos silenciosos e benesses garantidas por dentro do próprio sistema. E quando são julgados — em raros casos — são julgados pelos seus pares. Não é justiça, é uma confraria.

Onde está o "homem de bem" para criticar isso? Onde estão os indignados de WhatsApp e das redes sociais, os patriotas de bandeira na sacada, os moralistas de plantão? Quando o privilégio tem gravata e caneta de ouro, a indignação tira férias.

O problema não é o juiz — é o sistema intocável

É importante dizer: não se trata de atacar o juiz como indivíduo, mas de questionar um sistema que criou uma casta acima da lei. Não há democracia plena onde há desigualdade tão escancarada entre quem julga e quem é julgado.

A verdadeira moralidade começa onde dói: confrontando privilégios reais. E talvez seja hora do "homem de bem" olhar no espelho e se perguntar se ele está mesmo do lado da justiça — ou apenas do lado de quem nunca será julgado.

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