“Família margarina” está falida? Ou é o senso de responsabilidade que está fora de moda?
A atriz Deborah Secco, sempre muito confortável em polêmicas que geram manchetes fáceis, resolveu dar seu parecer sobre um dos pilares mais caros à sociedade: a estrutura familiar. Segundo ela, o modelo da chamada “família margarina” — aquele ideal de pai, mãe, filhos e afeto no café da manhã — está “ficando falido”.
Mas será que o modelo está falido... ou é o comprometimento com algo maior do que o próprio umbigo que se tornou insustentável?
Em tempos onde o ego reina, onde os likes valem mais do que laços, e onde a liberdade pessoal é confundida com irresponsabilidade emocional, não é surpresa que esse discurso encontre aplausos em certos círculos. Afinal, é muito mais fácil jogar a culpa no "modelo antiquado de família" do que encarar os próprios traumas, escolhas e falta de consistência.
A falência está na vitrine ou no conteúdo?
Vamos ser francos: a tal “família margarina” nunca existiu da forma idealizada. Ela sempre foi uma metáfora midiática, um símbolo publicitário de estabilidade e aconchego. Mas ainda assim, representava algo: um esforço conjunto. Um projeto a dois (ou mais) que envolvia sacrifícios, pactos, renúncias e sim, muito trabalho emocional.
Hoje, ao menor sinal de atrito, o discurso é “me amo e me basto”. A coletividade virou prisão. A parceria virou opressão. E o amor, aquele que exige maturidade, virou vilão do “livre arbítrio afetivo”. O problema nunca foi o modelo. O problema é que ninguém mais quer pagar o preço de sustentar vínculos reais.
Liberdade ou fuga disfarçada de modernidade?
Deborah Secco, que já declarou que "não nasceu pra ser de um homem só", agora assume o papel de pensadora social e decreta a falência de um modelo familiar. Mas que tipo de família ela defende? Aquela onde os vínculos são líquidos, o afeto é instável, e o compromisso é descartável como story de 24 horas?
Sim, o mundo mudou. Sim, há outros modelos possíveis de família — monoparentais, homoafetivos, famílias estendidas, mosaicos. E ainda bem. O que não dá é fingir que a falência da “família tradicional” se deve à sua rigidez, quando a verdade é que muitas pessoas preferem o hedonismo inconsequente à construção sólida.
O preço da tal “falência”
A tal “família margarina” pode não ser perfeita, mas pelo menos sustentava algumas ideias que hoje estão em extinção: estabilidade para as crianças, senso de responsabilidade afetiva, planejamento conjunto. Ao contrário do que se prega, liberdade sem responsabilidade não é evolução — é regressão emocional.
Quando uma figura pública como Deborah Secco rotula um ideal como "falido", ela não apenas dá sua opinião — ela alimenta um discurso de desapego emocional que veste a roupa de modernidade, mas que, na prática, desagua em solidão, relações descartáveis e uma geração inteira com medo de se doar.
Talvez a família margarina esteja derretendo, sim. Mas não por ser obsoleta. E sim porque a chama do egoísmo moderno está cada vez mais alta.
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