O recente episódio envolvendo o chanceler alemão reacendeu um debate importante — e necessário — sobre a forma como lidamos com críticas externas e, principalmente, sobre como reagimos às verdades incômodas que dizem respeito à nossa própria realidade.
O ponto central não é a opinião do chanceler em si, que, ao que tudo indica, apenas expôs fatos que qualquer cidadão comum de Belém reconhece no dia a dia: problemas urbanos sérios, abandono estrutural e uma gestão pública aquém do que a população merece.
A crítica externa não deveria nos ofender. Pelo contrário: deveria servir como espelho.
O problema não está no que ele disse — está em como reagimos
É preocupante perceber que muitos moradores de Belém correram para defender a situação atual da cidade, como se estivesse tudo bem, como se os problemas fossem “normais”, “exageros” ou “invenções”.
Essa defesa automática é um sintoma grave de algo mais profundo: a naturalização do caos.
Quando o cidadão passa a considerar aceitável viver em meio a buracos, lixo acumulado, transporte precário, falta de segurança e infraestrutura mínima, não é apenas a cidade que está adoecida — é o senso crítico coletivo.
Quando defender o problema substitui cobrar soluções
O mais alarmante é a inversão de valores que se forma:
Em vez de aproveitar a visibilidade internacional para cobrar ações concretas das autoridades responsáveis, parte da população escolhe proteger a imagem da cidade como se isso fosse mais importante do que a realidade vivida.
É como se houvesse um receio de admitir o óbvio:
Belém tem problemas sérios, históricos e urgentes.
Criticar essas condições não significa atacar a cidade. Significa querer vê-la melhor.
Crítica externa não é humilhação — é oportunidade
Países e cidades desenvolvidos cresceram justamente por ouvir críticas, corrigir rumos e transformar problemas em políticas públicas.
Ignorar, minimizar ou defender o indefensável apenas prorroga o sofrimento dos moradores.
Se um comentário vindo de fora gera esse desconforto, é porque acertou em cheio.
E se acertou, é porque há muito a se fazer.
O que deveria acontecer agora
Em vez de hostilizar quem critica, o caminho mais inteligente — e mais patriótico — seria:
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Cobrar das autoridades locais respostas imediatas e planos concretos de melhoria.
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Aproveitar o debate para discutir mobilidade, saneamento, segurança e políticas urbanas.
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Transformar o incômodo em incentivo para mudanças reais.
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Reclamar menos de quem aponta o problema e mais de quem deveria resolvê-lo.
Conclusão: Belém merece mais — e os belenenses também
A verdadeira defesa de uma cidade não está em negar seus problemas, mas em exigir que eles sejam solucionados.
Se parte da população prefere defender o caos a cobrar progresso, a cidade não avança.
Belém tem beleza, história, identidade e potencial gigantesco.
Mas também tem desafios enormes — e fingir que eles não existem só afasta ainda mais qualquer chance de mudança.
O episódio com o chanceler não é uma agressão.
É um alerta.
E ignorar alertas nunca levou nenhuma cidade ao desenvolvimento.
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