segunda-feira, 27 de maio de 2013

Quanto você vale aos olhos dos teus?

Eram tempos muito difíceis naquele ano de 1998, já não havia mais nem a água barrenta para os animais, pois não chovia a mais de 03 anos. Essa seca no sertão do Piauí havia devastado tudo e a fome se movimentava como rastilho de pólvora por todos os cantos, não respeitava mais nem as crianças.
            
Zé Raimundo e Severino estavam no auge dos 23 anos, casados e com dois filhos cada pra alimentar a qualquer custo e, já não tendo mais alternativas de sobrevivência, decidiram rumar pra São Paulo, capital. Era sair dali ou ficar e definhar na aridez daquele solo.
            
Na chegada em São Paulo, conheceram George, um engenheiro civil em inicio de carreira, cheio de sonhos tanto quanto eles, que estava iniciando uma construtora. Foram tempos de grana escassa até a empresa de George alçar voos mais altos e como Zé Raimundo e Severino partilharam com aquele crescimento, eram chamados pelo nome e de inteira confiança, nesses dias atuais, pelo hoje Dr. George, passados 15 anos e a construtora com mais de 1.500 empregados.
            
Como sempre, desde a chegada em são Paulo, Zé Raimundo e Severino eram uma dupla inseparável nas tarefas, sempre trabalham juntos e, naquela tarde de agosto, onde já se anunciava a primavera, não era diferente. Foram incumbidos de limpar toda a fachada do prédio, um vistoso empreendimento de 15 andares onde iria funcionar o primeiro shopping da construtora, talvez o projeto dos olhos de George.
            
Já com duas horas de trabalhos no 15º andar, Severino sente uma indisposição estomacal e avisa o amigo Zé Raimundo que vai ao banheiro, descendo do andaime. Nesse instante, uma rajada de vento inesperada balança o andaime derrubando o velho amigo Zé. Foi uma consternação geral na empresa e, particularmente para Severino e George, pois afinal, eles haviam começado tudo junto e tinham uma ligação fraterna entre eles. George não se conformava em ter perdido o amigo justamente no seu projeto pessoal.
            
No dia da inauguração já que, apesar daquela tragédia, a vida continua, George chamou Severino e sua família mais a esposa com os dois filhos do Zé Raimundo e mandou-os sentarem num local especial, bem na frente, pois pretendia fazer uma homenagem ao amigo falecido. Então discursou:
            
“- Todos sabem do meu apreço pelo Zé Raimundo, que já não esta mais entre nós, deixando sua família desprotegida, então . . . Nada mais justo que eu ampare sua esposa e seus dois filhos. Pois bem: quero comunicar que estou doando a família do Zé Raimundo um apartamento de cobertura, carro com motorista, uma caderneta de poupança com R$ 100.000,00 reais para cada filho, escola particular e faculdade quando eles crescerem”.
            
Ao que a esposa do Severino cutuca-o e pergunta baixinho:
            
“- Então, que baita amigo você, hein Severino? O Zé lá, caindo do andaime, e você no banheiro . . . Cagando”.

Autor: Guilherme Quadros
Email: gqkonig@hotmail.com

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