Quando a bolha é tão grossa que até o oxigênio é filtrado.
Capítulo 1 – Justiça do Trabalho, Mas Não o Mesmo Trabalho
O Tribunal Superior do Trabalho anunciou que seus membros terão serviço VIP em aeroportos para “evitar contato com pessoas mal-intencionadas”. Em outras palavras: segurança reforçada, atendimento especial, embarque e desembarque sem ter que olhar nos olhos da plebe.
Capítulo 2 – O Medo da População que Sustenta a Conta
A narrativa é linda: “proteger contra pessoas mal-intencionadas”. Traduzindo: evitar que alguém ouse questionar decisões, salários, benefícios, penduricalhos, férias de 60 dias ou diárias de hotel cinco estrelas pagas com o dinheiro de quem espera audiência trabalhista por anos.
Parece piada, mas é sério: o contribuinte paga para ser mantido longe daqueles que deveriam servir… o contribuinte. É a inversão perfeita da lógica pública: o servidor é protegido do público, e não o contrário.
Capítulo 3 – Bolha Blindada
Esse “isolamento preventivo” é só mais um sintoma do Brasil das castas jurídicas, onde juízes e ministros vivem num ecossistema paralelo:
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Viagens custeadas pelo erário;
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Auxílio-moradia mesmo morando na própria cidade;
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Salários acima do teto com criatividade contábil;
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E agora, corredores exclusivos nos aeroportos, como se a realidade fosse uma doença contagiosa.
Enquanto isso, o cidadão comum enfrenta fila na Receita, fila no SUS e fila na audiência trabalhista. Mas, claro, é ele que representa o risco.
Capítulo 4 – Pessoas Mal-Intencionadas ou Gente de Memória Boa?
Talvez o TST tema, não “pessoas perigosas”, mas pessoas bem informadas. Aquelas que lembram das decisões controversas, das verbas milionárias liberadas a empresas amigas, das greves silenciosamente sufocadas e dos privilégios mantidos à base de interpretações jurídicas criativas.
Porque, convenhamos, “pessoa mal-intencionada” é um conceito amplo. Pode ser desde um criminoso até um cidadão indignado — e, em tempos como os nossos, indignação é praticamente contrabando.
Conclusão – A Justiça que Não Pega Conexão
O TST quer se proteger do povo, mas o povo já está protegido do TST há muito tempo — protegido de vê-lo trabalhando com a urgência que a realidade exige.
No mundo deles, a ameaça é um cidadão com perguntas. No nosso, a ameaça é viver num país onde quem deveria servir se isola para não ouvir. E isso não se resolve com corredor VIP — se resolve descendo do salto e pegando o mesmo voo que a gente.
Mas, pensando bem… talvez seja pedir demais a quem já mora acima das nuvens.