Quando um país periférico resolve brincar de potência e se esquece de que ainda está no recreio do Império.
Capítulo 1 – A Ilusão da Relevância
O Brasil adora um protagonismo simbólico. Gosta de discursar em fóruns globais, de citar Paulo Freire em conferências que ninguém escuta, de tentar sentar na janelinha do G20 enquanto carrega a marmita furada do Mercosul.
Agora, resolveu inovar: quer ser “o pai” da moeda mundial que substituirá o dólar americano. Sim, você leu certo. O país onde o Pix é mais confiável que o Congresso quer liderar o movimento que vai reformular o sistema financeiro global. Ambição? Tem. Estrutura? Nem wi-fi no interior do Piauí.
Capítulo 2 – O Filho Não Nascido da Desdolarização
A proposta da tal “nova moeda dos BRICS” é até charmosa: livrar-se da dependência do dólar, negociar diretamente entre potências emergentes, reduzir a influência das sanções unilaterais americanas… Parece um plano sólido, até você lembrar que:
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Índia e China mal se cumprimentam;
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Rússia está ocupada sendo cancelada por meia ONU;
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África do Sul está tentando sobreviver à própria crise de energia;
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E o Brasil… bem, o Brasil quer liderar o projeto com uma dívida interna que já ameaça a aposentadoria de quem nem nasceu.
Mas calma, tudo sob controle. Já temos até o nome provisório: “Moeda da Soberania”. Pena que ninguém ainda explicou quem vai confiar sua reserva internacional num consórcio onde um dos membros paga em banana e o outro exige em rublo.
Capítulo 3 – Sonhou? Paga.
Não demorou muito para o castigo começar. De forma sutil, claro — como toda retaliação moderna:
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Investigações internacionais surgem com “timing curioso”;
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Agências de risco reduzem a nota brasileira com base em previsões atmosféricas e signos;
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ONGs e diplomatas começam a achar “problemas graves” no agro, na Amazônia, nos direitos humanos, na cor da bandeira, no samba e no modo como pronunciamos "BRICS".
Capítulo 4 – O Império Sorri com a Caneta na Mão
Enquanto o Brasil sonha com a tal “liderança multipolar”, os EUA assistem de camarote. Eles sabem que o maior aliado deles aqui é o bom e velho caos institucional brasileiro.
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Propor moeda nova sem sequer ter banco central independente?
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Falar em soberania financeira quando metade do país depende de commodities cotadas em… dólar?
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Criar nova ordem mundial com um Congresso que ainda debate se o imposto é de renda ou de sobrevivência?
No fundo, o império nem precisa intervir. Basta deixar o Brasil falando sozinho — e a elite local, bem treinada, cuida do resto. Cancelam, sabotam, chamam de “populismo perigoso”. E pronto. Moeda enterrada antes do primeiro protótipo.
Conclusão – Sonhar Grande é um Crime de Classe
Mas tudo bem. Pelo menos temos discurso bonito na ONU — e é isso que importa, né?
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