quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A cor negra da pele de Deus.

Narra uma lenda que num reino distante, onde reinava absoluto um rei sanguinário que decretara estar terminantemente proibidos habitantes de pele morena ou negra onde, sequer, permitiam-se cabelos pretos. Se assim houvesse, haveriam de serem eliminados já no nascimento. Esse rei tinha uma pele tão branca quanto à neve e seus olhos eram de um azul profundo, belos e inebriados pela candura surreal da raça ariana.
            
Ao provocar essa limpeza étnica, por certo que causou muita dor entre seus súditos, considerando que muitas crianças foram arrancadas do seio familiar para serem decapitadas ou afogadas por que nasceram com cabelos escuros, mesmo tendo a pele tão alva quanto a daquele monarca. Suas fronteiras eram vigiadas dia e noite, não permitindo que ninguém fora dos padrões arianos ingressasse em seu território e, aos que tentassem, eram presos e queimados em praça publica para que servissem de exemplo e demovessem os demais de tentarem algo parecido.
            
Quando morreu, no auge dos seus 29 anos, o seu subconsciente vivo regozijou-se de alegria ao perceber dois anjos quase albinos, envoltos numa bruma branca, virem busca-lo para conduzir até onde estava Deus, aguardando-o para recebê-lo no paraíso.
            
Assim que entrou naquele enorme salão, onde Deus o esperava, estava realizado ao perceber belas cachoeiras de aguas cristalinas vertendo das paredes, lindos ajardinados por todos os cantos e Deus lá no fundo, virado de costas para a entrada, despachando com alguns anjos, então parou a uns dois metros da mesa de Deus e o aguardou.
            
Passado uns dois minutos, depois de terminar com os anjos, Deus vira-se e o cumprimenta em um tom de voz doce e fraternal:

- Como vai meu filho? Foi bem recebido? Já esta acomodado?
            
Ao que aquele rei de pele ariana empalideceu e sua voz custou a sair, quase num sussurro.

-Mas... Você... É negro? Como assim, negro?
            
Realmente, a figura de Deus naquele momento era de um negro imponente, alto, olhar profundo e meigo, não tão velho, talvez o mais puro dos negros, mas ainda assim, falava manso e transmitia tranquilidade e paz ao falar.

-Sim, meu filho, sou negro, mas posso ser amarelo, branco, índio, alto, baixo, magro, gordo, latino, europeu, árabe, oriental.
            
Enquanto falava, Deus ia modificando a sua imagem, transformando-se naquilo que dizia e continuou:

-Eu posso ser aquela brisa que te refresca, aquele pássaro, aquela flor, talvez um monarca poderoso ou um humilde artesão. Eu posso tudo e voz criei a minha imagem e semelhança, tendo o cuidado para que houvesse a tal da diversidade. Imagine se todos fossem louros como você sonhou um dia? Que graça teria?

E acrescentou:

-Nesse paraíso, onde vocês moram, têm que haver ricos e pobres, belos e feios, gordos e magros, brancos, negros, amarelos, mas todos são filhos de Deus, com mãos, pernas, braços e um cérebro dotado de inteligência igual para todos e um tal de “raciocínio logico ligado ao livre-arbítrio” para que cada um faça conforme ache bom para si.

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Diversidade. Palavra difícil, a qual poucos conhecem e quase ninguém sabe o real significado.
            
Imaginem se realmente só houvesse uma cor, se só houvesse um país, se só houvesse uma cor de pele, só um time de futebol, só um governante, apenas uma língua a ser falada. Isso realmente seria um tedio.
            
Quando todos souberem respeitar as diferenças, as opiniões dos outros e suas escolhas então aí, realmente teremos um mundo melhor.

Autor: Guilherme Quadros
Email: gqkonig@hotmail.com

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