Um retrato da sociedade que absolve o crime e condena a consequência.
Capítulo 1 – O Novo Evangelho do Crime Social
Vivemos tempos curiosos.
O crime já não é mais crime — é “contexto social”.
O bandido não é mais bandido — é “fruto das desigualdades”.
E o cidadão comum, que paga impostos e tenta sobreviver, virou o opressor, o vilão invisível que, dizem, criou todas as mazelas do sistema.
Assim nasce o novo evangelho moderno: o traficante é vítima do Estado, o consumidor é cúmplice da destruição nacional, e a responsabilidade... se dissolve no ar como fumaça.
Capítulo 2 – A Inversão dos Papéis
De tanto justificar o injustificável, criamos um espetáculo moral.
O sujeito que escolhe traficar, armado até os dentes, é tratado como “vítima da sociedade”.
Já o jovem que compra um celular roubado, ou o trabalhador que reclama da violência, é rotulado de “hipócrita elitista”.
E quem ousa dizer que crime é crime, sem rodapé sociológico, é logo acusado de falta de empatia.
A justiça, então, torna-se uma peça teatral: os papéis são trocados, e a plateia aplaude, confusa, acreditando estar vendo progresso — quando, na verdade, assiste ao enterro da responsabilidade individual.
Capítulo 3 – O Santo da Favela e o Demônio de Gravata
A sociedade pós-moderna tem uma nova religião: a do ressentimento.
O herói não é quem vence a pobreza pelo mérito, mas quem a transforma em desculpa.
O bandido armado é santificado — afinal, “ele não teve escolha”.
Mas o comerciante que fecha as portas cedo, com medo de morrer, é quem recebe o sermão.
Nos tribunais da opinião pública, a moral é uma moeda falsificada.
E quem tenta usá-la de forma autêntica é imediatamente cancelado.
Capítulo 4 – O Espectador Cúmplice
Mas há algo ainda mais grave: a passividade.
O cidadão médio, já anestesiado por anos de discursos contraditórios, aceita o absurdo com naturalidade.
Vê o criminoso ganhar espaço, o policial virar réu e o trabalhador ser ridicularizado.
E, de tanto assistir à inversão, passa a considerá-la normal.
Quando a sociedade se acostuma com a injustiça disfarçada de compaixão, o crime não precisa mais se esconder — ele governa.
Capítulo 5 – O Julgamento Final (ou o Silêncio dos Bons)
O problema nunca foi o traficante nem o consumidor isoladamente.
O verdadeiro vilão é o discurso que absolve o primeiro e demoniza o segundo.
É o sistema que premia o crime com justificativas e pune o bom senso com acusações morais.
Quando o traficante vira vítima e o consumidor vilão, a sociedade deixa de ser justa e passa a ser cínica.
E o cinismo é o último estágio antes da ruína.
Conclusão – Entre o Certo e o Covarde
O que separa a civilização do caos não é o tamanho da desigualdade, mas a coragem de chamar as coisas pelo nome.
Enquanto o crime for “contexto” e a lei for “interpretação”, o país continuará refém da própria covardia.
No fim das contas, o traficante é vítima apenas de si mesmo — mas o povo, esse sim, é vítima de um Estado e de uma elite intelectual que esqueceram o que é certo, porque têm medo de parecer duros.