Uma fábula moderna sobre o poder, a crença e a domesticação das consciências.
Capítulo 1 – O Surgimento do Encantador
Dizem que ele não gritava, apenas falava.
E quando falava, a manada parava para ouvir.
As palavras saíam mansas, embaladas em promessas de futuro, igualdade e redenção.
Ele não oferecia o paraíso — apenas a ilusão de que todos já estavam quase lá.
Foi assim que o encantador nasceu: não do poder, mas da necessidade de alguém que o povo pudesse seguir.
Capítulo 2 – A Música que Hipnotiza
Toda manada precisa de um som para seguir.
O encantador sabia disso.
Usava frases simples, repetidas mil vezes, até que o povo acreditasse que eram verdades eternas.
Falava de justiça, mas distribuía dependência.
Falava de amor, mas cultivava obediência.
E assim, sem perceber, a manada confundiu discurso com destino.
Capítulo 3 – O Caminho da Manada
Guiados pela voz do encantador, marchavam alegres, acreditando que avançavam.
Mas o caminho era um círculo: sempre voltavam ao mesmo ponto — o da carência, da esperança e da promessa adiada.
De tempos em tempos, o encantador dizia: “Faltou pouco! Agora vai!”
E a manada, dócil e cansada, aplaudia.
Porque o medo de perder o guia era maior do que a coragem de andar sozinha.
Capítulo 4 – O Dia em que a Voz se Calou
Um dia, a voz do encantador se perdeu no vento.
Sem o som, a manada parou. Olhou em volta, sem saber o que fazer.
Descobriu que os campos prometidos eram os mesmos de sempre — secos, vazios, gastos.
E foi nesse silêncio que o primeiro animal ousou pensar:
“E se o encanto sempre esteve em nós, e não nele?”
Capítulo 5 – O Despertar da Manada
Aos poucos, um a um, os olhos se abriram.
O encantador havia desaparecido, mas o pensamento permanecia.
Alguns tentaram continuar seguindo o som que não existia mais. Outros aprenderam a andar por conta própria.
E no meio daquele caos manso, nasceu algo raro: consciência.
Conclusão – O Verdadeiro Encantamento
O verdadeiro encantamento não está na voz que conduz, mas na mente que desperta.
Toda manada pode ser conduzida pelo medo, pela promessa ou pela crença.
Mas basta um que pense diferente para que o encanto se quebre.
Porque no fim, o encantador só tem poder enquanto a manada acreditar que precisa ser guiada.
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