Uma frase assim, sem inicio e sem fim, solta no ar, talvez,
não tenha nenhuma significância, fica até sem nexo, mas e se for dita por uma
pessoa nascida em 1925, que traga muito no seu contexto emocional, acaba por desarmar
a tua alma e te deixa sem argumentos para responder.
Então, vamos
do inicio.
Dia destes, atendi
no meu trabalho uma senhora extremamente simpática, magra, mas voz firme e de
conversa agradável e fluente. Uma típica vozinha destas de filme, sabem?
Quando vi a
sua data de nascimento, parabenizei-a, dizendo aquelas coisas tipo “que bom, a senhora com essa idade, isso é
uma dadiva nos dias de hoje, viveu e tem muita historia para contar”, ao
que ela, sempre com uma ponta de sorriso nos lábios respondeu:
- Claro que
é bom meu filho, mas sabe, por maior que seja a família da gente, com irmãos,
filhos e netos, depois que morre o companheiro da gente, a gente fica muito só.
Ninguém tem tempo para parar e tirar um dedo de prosa com a gente, sentar e
tomar um chá então, nem pensar. Dos irmãos, quem não esta doente, esta preso as
suas próprias angustias, tal qual a gente, os filhos sempre correndo, não
dispõe de tempo pra gente, os netos tem a tv ou a internet, que é mais atraente
do que ouvir nossas conversas então, “acho que não é bom viver muito, depois de
um certo tempo, a gente só atrapalha”.
Esse pequeno
comentário, de uma conversa quase informal, de pouco mais de dois minutos, não
me permitiu engolir aquilo em seco, pois me deu aquele nó na garganta, daqueles
que se estende para o peito e gera uma sensação de tristeza tão grande,
refletindo no disfarce dos olhos marejados tanto que me veio à cabeça que,
talvez, a maior epidemia da humanidade nos dias atuais, que angustia e mata, seja
justamente a solidão. Mais especificamente aquela que exclui as pessoas do seio
familiar, do ente querido que não te nota, não fala e muito menos responde a uma
simples saudação.
Vejam no
caso dessa senhorinha e de tantas outras por aí. Quantas noites sem dormir? Quantos
ninar o bebe até as costas ficarem dormentes? Quantos levantar a noite e cobrir
os filhos? Quantas manhãs e tardes, talvez, dias, semanas ou meses atendendo os
netos? Quantas papinhas e mamadeiras? E colos. Quantos colinhos quentinhos? Sem
falar das bolachinhas e dos doces da vovó que até curavam a dor de uma
peraltice.
Alguém já disse
que podemos estar rodeados de mil pessoas e, ainda assim, sentirmos solidão,
mas a que mais dói e derruba qualquer pessoa é justamente a exclusão e o descaso
dos que amamos.
Quem
não tem tempo para dar atenção aos seus agora, não poderá exigir atenção dos
seus amanhã, pois o espelho do tempo refletira exatamente aquilo que você foi
ontem.
Autor: Guilherme Quadros
Email: gqkonig@hotmail.com
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