Eram tempos muito difíceis naquele ano de 1998, já não havia
mais nem a água barrenta para os animais, pois não chovia a mais de 03 anos. Essa
seca no sertão do Piauí havia devastado tudo e a fome se movimentava como
rastilho de pólvora por todos os cantos, não respeitava mais nem as crianças.
Zé Raimundo
e Severino estavam no auge dos 23 anos, casados e com dois filhos cada pra
alimentar a qualquer custo e, já não tendo mais alternativas de sobrevivência,
decidiram rumar pra São Paulo, capital. Era sair dali ou ficar e definhar na aridez
daquele solo.
Na chegada
em São Paulo, conheceram George, um engenheiro civil em inicio de carreira, cheio
de sonhos tanto quanto eles, que estava iniciando uma construtora. Foram tempos
de grana escassa até a empresa de George alçar voos mais altos e como Zé
Raimundo e Severino partilharam com aquele crescimento, eram chamados pelo nome
e de inteira confiança, nesses dias atuais, pelo hoje Dr. George, passados 15
anos e a construtora com mais de 1.500 empregados.
Como sempre,
desde a chegada em são Paulo, Zé Raimundo e Severino eram uma dupla inseparável
nas tarefas, sempre trabalham juntos e, naquela tarde de agosto, onde já se
anunciava a primavera, não era diferente. Foram incumbidos de limpar toda a
fachada do prédio, um vistoso empreendimento de 15 andares onde iria funcionar
o primeiro shopping da construtora, talvez o projeto dos olhos de George.
Já com duas
horas de trabalhos no 15º andar, Severino sente uma indisposição estomacal e
avisa o amigo Zé Raimundo que vai ao banheiro, descendo do andaime. Nesse
instante, uma rajada de vento inesperada balança o andaime derrubando o velho
amigo Zé. Foi uma consternação geral na empresa e, particularmente para
Severino e George, pois afinal, eles haviam começado tudo junto e tinham uma
ligação fraterna entre eles. George não se conformava em ter perdido o amigo
justamente no seu projeto pessoal.
No dia da
inauguração já que, apesar daquela tragédia, a vida continua, George chamou
Severino e sua família mais a esposa com os dois filhos do Zé Raimundo e
mandou-os sentarem num local especial, bem na frente, pois pretendia fazer uma
homenagem ao amigo falecido. Então discursou:
“- Todos
sabem do meu apreço pelo Zé Raimundo, que já não esta mais entre nós, deixando
sua família desprotegida, então . . . Nada mais justo que eu ampare sua esposa
e seus dois filhos. Pois bem: quero comunicar que estou doando a família do Zé
Raimundo um apartamento de cobertura, carro com motorista, uma caderneta de poupança
com R$ 100.000,00 reais para cada filho, escola particular e faculdade quando
eles crescerem”.
Ao que a
esposa do Severino cutuca-o e pergunta baixinho:
“-
Então, que baita amigo você, hein Severino? O Zé lá, caindo do andaime, e você
no banheiro . . . Cagando”.
Autor: Guilherme Quadros
Email: gqkonig@hotmail.com
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