Narra uma lenda que num reino distante, onde reinava absoluto
um rei sanguinário que decretara estar terminantemente proibidos habitantes de
pele morena ou negra onde, sequer, permitiam-se cabelos pretos. Se assim
houvesse, haveriam de serem eliminados já no nascimento. Esse rei tinha uma
pele tão branca quanto à neve e seus olhos eram de um azul profundo, belos e
inebriados pela candura surreal da raça ariana.
Ao provocar
essa limpeza étnica, por certo que causou muita dor entre seus súditos,
considerando que muitas crianças foram arrancadas do seio familiar para serem
decapitadas ou afogadas por que nasceram com cabelos escuros, mesmo tendo a
pele tão alva quanto a daquele monarca. Suas fronteiras eram vigiadas dia e
noite, não permitindo que ninguém fora dos padrões arianos ingressasse em seu
território e, aos que tentassem, eram presos e queimados em praça publica para
que servissem de exemplo e demovessem os demais de tentarem algo parecido.
Quando
morreu, no auge dos seus 29 anos, o seu subconsciente vivo regozijou-se de
alegria ao perceber dois anjos quase albinos, envoltos numa bruma branca, virem
busca-lo para conduzir até onde estava Deus, aguardando-o para recebê-lo no
paraíso.
Assim que
entrou naquele enorme salão, onde Deus o esperava, estava realizado ao perceber
belas cachoeiras de aguas cristalinas vertendo das paredes, lindos ajardinados
por todos os cantos e Deus lá no fundo, virado de costas para a entrada, despachando
com alguns anjos, então parou a uns dois metros da mesa de Deus e o aguardou.
Passado uns
dois minutos, depois de terminar com os anjos, Deus vira-se e o cumprimenta em
um tom de voz doce e fraternal:
- Como vai meu filho? Foi bem recebido? Já esta acomodado?
Ao que
aquele rei de pele ariana empalideceu e sua voz custou a sair, quase num
sussurro.
-Mas... Você... É negro? Como assim, negro?
Realmente, a
figura de Deus naquele momento era de um negro imponente, alto, olhar profundo
e meigo, não tão velho, talvez o mais puro dos negros, mas ainda assim, falava
manso e transmitia tranquilidade e paz ao falar.
-Sim, meu filho, sou negro, mas posso ser amarelo, branco, índio,
alto, baixo, magro, gordo, latino, europeu, árabe, oriental.
Enquanto falava,
Deus ia modificando a sua imagem, transformando-se naquilo que dizia e
continuou:
-Eu posso ser aquela brisa que te refresca, aquele pássaro,
aquela flor, talvez um monarca poderoso ou um humilde artesão. Eu posso tudo e
voz criei a minha imagem e semelhança, tendo o cuidado para que houvesse a tal
da diversidade. Imagine se todos fossem louros como você sonhou um dia? Que graça
teria?
E acrescentou:
-Nesse paraíso, onde vocês moram, têm que haver ricos e
pobres, belos e feios, gordos e magros, brancos, negros, amarelos, mas todos são
filhos de Deus, com mãos, pernas, braços e um cérebro dotado de inteligência igual
para todos e um tal de “raciocínio logico
ligado ao livre-arbítrio” para que cada um faça conforme ache bom para
si.
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Diversidade.
Palavra difícil, a qual poucos conhecem e quase ninguém sabe o real
significado.
Imaginem se
realmente só houvesse uma cor, se só houvesse um país, se só houvesse uma cor
de pele, só um time de futebol, só um governante, apenas uma língua a ser
falada. Isso realmente seria um tedio.
Quando todos
souberem respeitar as diferenças, as opiniões dos outros e suas escolhas então aí,
realmente teremos um mundo melhor.
Autor: Guilherme
Quadros
Email:
gqkonig@hotmail.com