Sinto vergonha de
mim, por ter sido educador de parte deste povo, por ter batalhado sempre pela
justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade, e por ver
este povo já chamado varonil, enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim, por ter feito
parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que
entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente a derrota das virtudes
pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência
com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o ‘eu’
feliz a qualquer custo, buscando a tal ‘felicidade’ em caminhos eivados de
desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade
em ouvir, sem despejar meu verbo a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e
vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos
‘floreios’ para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a
antiga posição de sempre ‘contestar’, voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim, pois faço parte
de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência, da
minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para
onde ir, pois amo este meu chão, vibro ao ouvir o meu Hino e jamais usei a
minha Bandeira para enxugar o meu suor, ou enrolar o meu corpo na pecaminosa
manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta
pena de ti, povo deste mundo!
‘De
tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver
crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude. A rir-se da honra, a ter vergonha de ser
honesto’.
Rui Barbosa
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